quarta-feira, 22 de maio de 2013

Civilização Tupinambá

Os tupinambás são um povo indígena brasileiro que, até o século XVI, habitava duas regiões da costa brasileira: a primeira ia desde a margem direita do Rio São Francisco até o Recôncavo Baiano; a segunda abrangia o litoral sul do atual estado do Rio de Janeiro e o litoral norte do atual estado de São Paulo. Este segundo grupo também era chamado de tamoio. Os tupinambás são considerados os antepassados de todas as tribos tupis que habitavam o litoral brasileiro no século XVI. Compunham-se de 100 000 indivíduos. Eram a nação indígena mais conhecida da costa brasileira pelos navegadores europeus do século XVI. Atualmente, existe um grupo indígena no sul do estado da Bahia que alega descender dos tupinambás: são os tupinambás de Olivença.


Costumes
Apesar de terem raízes comuns, as diversas tribos que compunham a nação tupinambá lutavam constantemente entre si, movidas por um intenso desejo de vingança que resultava sempre em guerras sangrentas em que os prisioneiros eram capturados para serem devorados em rituais antropofágicos. Autores como o alemão Hans Staden ("História verdadeira e descrição de uma terra de selvagens...") e os franceses Jean de Léry ("História de uma viagem feita à terra do Brasil") e André Thevet ("As singularidades da França Antártica..."), todos do século XVI, além das cartas jesuíticas da época, nos dão notícias muito precisas acerca de quem eram e de como viviam os índios Tupinambás. Em todas as tribos tupinambás, eram comuns as referências a "heróis civilizadores", como chama Alfred Métraux em seu livro "A Religião dos Tupinambás". Esses heróis eram divindades que haviam criado ou dado início à civilização indígena (Meire Humane e Pae Zomé — mito ameríndio comum em toda a América Meridional). Também era comum a intercessão dos pajés junto aos espíritos através do uso dos maracás, chocalhos místicos cujo uso era obrigatório em qualquer cerimônia. Os tupinambás da Região Sudeste do Brasil tinham um vasto território, que se estendia desde o Rio Juqueriquerê, em São Sebastião/Caraguatatuba, no estado de São Paulo, até o Cabo de São Tomé, no estado do Rio de Janeiro. O grosso da nação tupinambá localizava-se na Baía da Guanabara e em Cabo Frio, onde fabricavam o gecay, que era a mistura de sal e pimenta que os índios vendiam aos franceses (chamados pelos tupinambás de maíra, nome originário de Meire Humane), com os quais se aliaram quando estes estabeleceram a colônia da França Antártica na Baía de Guanabara.

Confederação dos tamoios
As tentativas de escravização dos índios para servirem nos engenhos de cana-de-açúcar no núcleo vicentino levaram à união das tribos numa confederação sob o comando de Cunhambebe chamada de "Confederação dos Tamoios", englobando todas as aldeias tupinambás desde o Vale do Paraíba Paulista até o Cabo de São Tomé, com invejável poderio de guerra. É nesse ínterim que Nóbrega e Anchieta teriam sido levados por José Adorno de barco até Iperoig (atual Ubatuba), para tentar fazer as pazes com os índios. Segundo a tradição, Nóbrega voltou até São Vicente com Cunhambebe e o padre José de Anchieta ficou cativo dos tupinambás em Ubatuba. Nesse período, ele teria escrito o "Poema da Virgem". Fatos lendários e fantásticos teriam ocorrido nesta época do cativeiro, como o milagre de Anchieta: levitar entre os índios, que horrorizados, queriam que ele dali se retirasse pois pensavam tratar-se de um feiticeiro.

Seja como for, os padres, com muita diplomacia, conseguiram desmantelar a Confederação dos Tamoios, promovendo a Paz de Iperoig, o primeiro tratado de paz das Américas. Diz-se que, depois de feitas as pazes, Nóbrega advertiu os índios de que, se voltassem atrás na palavra empenhada, seriam todos destruídos, profecia que, de fato, se concretizou. Quando os portugueses atacaram os franceses do Rio de Janeiro, estes pediram ajuda aos índios, que acudiram a seus aliados. Isto levou ao extermínio dos tupinambás que moravam em aldeias em torno da Baía da Guanabara, na segunda metade do século XVI. Os que conseguiram se salvar foram os que se embrenharam nos matos com alguns franceses e os índios tupinambás de Ubatuba que, para não ajudarem os irmãos do Rio e não correrem riscos, ou se embrenharam nos matos ou foram assimilados pelos colonos em Ubatuba, gerando a atual população caiçara daquela região, assim como a população cabocla do Vale do Paraíba.

Contudo, o golpe fatal aos tupinambás foi o ataque ao último reduto francês em Cabo Frio, com a destruição de todas as aldeias. Tudo destruído com fogo e passado ao "fio da espada". Os sobreviventes ou se refugiaram nos matos e migraram para outras regiões ou alguns poucos ainda, no final do século XVI, podiam ser encontrados numa aldeia de índios cristãos próxima da então recém-fundada cidade do Rio de Janeiro, local onde morreu e foi enterrado o padre Nóbrega. Por esses motivos e por algumas declarações que denotariam em tese conivência com o extermínio indígena é que o padre José de Anchieta tem sido considerado muito polêmico até os dias atuais, embora, noutras oportunidades, tenha declarado que se entendia melhor com os índios do que com os portugueses.

Tupinambá de Olivença


Atualmente, existem quatro núcleos de índios tupinambás no litoral da Bahia: o Pau Brasil,
dentro do Território Indígena Caramuru Catarina Paraguassu, composta pelos membros da família Muniz; o Olivença, no município de Ilhéus, com vinte aldeias e 3 864 indígenas e a aldeia Patiburi, no município de Belmonte, com 199 pessoas. Também existem os Tupinambás da Serra do Padeiro, com mais de mil indígenas divididos em 21 aldeias - grupo que se negou a virar escravo nos engenhos e se abrigou no mato. Por conta disso, o extinto Serviço de Proteção ao Índio os chamava de "Tupinambá do Mato". Atualmente, lutam pela homologação de suas terras, já demarcadas pela Fundação Nacional do Índio.

Localização tupinamba de Olivença
A Terra Indígena Tupinambá de Olivença está situada nos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no estado da Bahia e é ocupada tradicionalmente pelos tupinambá de Olivença, cuja predominância de traços da vida social remonta à grande família tupi, filiação esta que não é apenas um resquício histórico remoto, mas uma marca efetiva na organização social e modo de vida atuais. Estimados aproximadamente em 3 000 indivíduos, os tupinambás habitam em pequenas unidades familiares distribuídas em uma área que abrange tanto a costa marítima quanto uma região de mata atlântica a norte e ao sul da vila de Olivença e, para o interior, até uma cadeia de montanhas composta pelas serras das Trempes, do Serrote e do Padeiro.

A vila de Olivença é o marco referencial da área que está sendo proposta. O local teve origem em 1680 com a edificação do aldeamento jesuíta Aldeia de Nossa Senhora da Escada, sendo também área de habitação permanente. É na vila que os tupinambás praticam um conjunto diversificado de atividades que envolvem a pesca no mar e no rio, a extração de piaçava, bem como desenvolvem atividades ligadas ao turismo, festas e rituais que caracterizam seu modo de ser e estar no mundo. A vila promove a articulação entre os tupinambás inseridos nas serras (ou na "roça", conforme classificação nativa) e os residentes nas áreas urbanas, sendo local onde se encontra importante cemitério indígena. Nesse sentido, os limites definidos pela Terra Indígena são vistos a partir da situação atual e do histórico de habitação do território, não correspondendo a um resgate de uma delimitação estabelecida no passado.

No decorrer dos últimos quatro séculos, os tupinambás de Olivença mantiveram-se em suas terras de ocupação tradicional resistindo, de diferentes formas, à sua usurpação. Além de dados históricos que indicam que os índios ocupavam esta região desde período anterior à ocupação europeia, o fato de este ser um território rico em recursos fluviais e matas explica essa permanência contínua na Terra Indígena. Digno de nota, inclusive, é que apenas na década de 1930 constam registros de que alguns índios deslocaram-se para área de Caramuru-Paraguaçu - neste caso, à procura de proteção do Serviço de Proteção ao Índio - o que indica um padrão de permanência perene nesse território, só alterado diante de sérias restrições quanto ao acesso e ocupação do mesmo. Se, por um lado, os tupinambás sentiram a usurpação histórica de extensas áreas do seu território tradicional, processo intensificado no período em que a região da mata começou a ser comprada e transformada em propriedade privada - o que ocorreu a partir da década de 1930-1940 - é principalmente a partir da década de 1960-1970 que ganharam consciência de que a presença dos "brancos" em suas terras estava inviabilizando seu relacionamento com o espaço.

A partir de então, a percepção do confinamento se fez sentir na vida cotidiana pela impossibilidade de fazer novas roças, de estabelecer novas unidades de habitação ou mesmo deslocar-se no espaço. O impedimento de dispor de recursos naturais provenientes das áreas de mata, de aceder a rios próximos aos locais de habitação, bem como o confinamento em espaços exíguos são dimensões do processo. Não obstante, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença faz-se conhecer pelo significado social e cultural atribuído pelos tupinambás ao território, sendo, para tal, central a ligação entre os habitantes e seus cultivos. No seu modo de ocupação tradicional do território, os tupinambás de Olivença vão se movendo e abandonando locais antigos de residência em ciclos de cerca de oito anos. Os espaços que já foram habitados nunca deixam, porém, de fazer parte do patrimônio territorial dos tupinambás. Eles os rememoram por referência a cultivos ali deixados (nomeadamente árvores de frutos) e pelas capoeiras - áreas de rejuvenescimento da mata que indicam o cultivo antigo de roças.

Ocupação tradicional
O território hoje habitado pelos tupinambás de Olivença pode ser documentado a partir de transformações históricas contínuas e assentes em critérios de organização social e de reação ao embate político com os missionários, os colonizadores e "brancos" de modo geral, que remonta ao século XVII. Mesmo antes de se fixarem no aldeamento jesuíta, as referências históricas consultadas mostram que os índios já se encontravam nesta região, sendo que a maioria tem a procedência tupi (tupiniquim e/ou tupinambá), havendo a menção da existência de aimorés, botocudos e outros grupos provenientes de outros aldeamentos jesuítas da região de Ilhéus. Esses grupos indígenas resistiram à ocupação dessas terras e atacavam os empreendimentos coloniais, o que postergou a ocupação e a fixação de aldeamentos nessa área ao sul do estado da Bahia. No entanto, se os índios resistiam, a Coroa Portuguesa mantinha fortes interesses na ocupação das terras e, como forma de contê-los, os repreendeu violentamente. Com a edificação do aldeamento, o povoamento passou a ser projetado segundo os modelos de espaços quadriculares onde os jesuítas implantaram seu projeto pedagógico e disciplinar. Porém, mais do que se adequar ao projeto colonial, diversos documentos consultados mostram que os tupinambás de Olivença souberam apropriar- se do espaço, transformando-o em um espaço indígena
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Em 1750, por diretiva do Marquês de Pombal, os povoamentos indígenas que, anteriormente, tinham nomes religiosos, ganharam toponímias de lugares da metrópole, criando simbolicamente uma idéia do território colonizado como uma réplica de um território da metrópole. É assim que o aldeamento de Nossa Senhora da Escada passou a designar-se Vila Nova de Olivença, nome de uma povoação que nessa altura pertencia a Portugal.

O Diretório dos Índios, projeto colonial desse período, incentivou a mestiçagem de índios com colonos portugueses, fato que facilitou a entrada de portugueses no território das vilas não apenas para "casar", mas também para negociar e ocupar o território (Diretório dos Índios, 1757). Mesmo diante do novo projeto colonial, os tupinambás continuaram vivendo o espaço da vila e das matas da região de Olivença como território indígena, transformando-o segundo seus padrões, ajustando o aparelho colonial às suas vivências. Perpetuou-se uma organização familiar e ocupação habitacional do espaço da vila repudiados pelo modelo colonizador e baseados no cultivo de mandioca nas roças circundantes e na produção do vasto conjunto de derivados alimentares deste tubérculo - desde a farinha à bebida fermentada referida especificamente em fontes históricas sobre os índios de Olivença pelo nome "cauym" (Lisboa 1799 in Almeida 1916: 108). Há também referências à prática da pesca no rio, à caça no mato e à coleta de caranguejos nos manguezais (Cf. Dias 2007: 17), bem como à elaboração de peças artesanais, sobretudo a partir de piaçava, que eram remetidas para Salvador onde eram comercializadas (Cf. Marcis 2004: 43, 44). Fontes documentais mostram ainda que, nos séculos XVIII e XIX, se manteve o mesmo padrão de ocupação do espaço. As diversas ações do estado colonial, que não consideraram o ponto de vista indígena, não apagaram nunca o modo de ocupação do espaço dos tupinambás de Olivença, segundo sua própria lógica cultural, nomeadamente se deslocando para junto aos rios, para o interior do continente, mantendo a ligação à vila - situada no litoral.

Uma análise dos registros do cartório da vila mostra que, nos finais do século XIX, esse modelo de ocupação do território se manteve, permanecendo até a atualidade. A partir de 1875, o Estado brasileiro declarou a extinção do estatuto indígena dos antigos aldeamentos missionários, seguindo interesses absolutamente alheios e desconhecedores do que ocorria nessas vilas e, assim, determinando que as terras dos antigos aldeamentos passassem a ter o estatuto de "terra devoluta" (Dantas et alli, 1992:451-2). Como "terra devoluta", essas terras poderiam ser transferidas do domínio patrimonial da Coroa para os estados e alvo de titulação de propriedade - Artigo 64, da Constituição Federal de 1891 (Garcez e Machado, 2001, p. 239). Em 1897, por meio da lei nº. 198 do Governo do Estado da Bahia, essa legislação foi aplicada abrangendo Olivença. Contudo, mais uma vez, os tupinambás mantiveram-se em suas terras tradicionais, evidenciando a distância entre as leis e a realidade vivida na região. Os registros oficiais de nascimento e falecimento da população da vila até a década de 1930 continuaram a identificar a grande maioria da população como índios. A década de 1930 foi tempo de forte pressão para que os índios deixassem suas terras, fato que fez com que parte dos tupinambás empreendesse pequenos deslocamentos ou refugiasse-se nas serras. Foi a partir de então que os índios começaram a tomar consciência do processo de usurpação do seu território e passaram a adotar diferentes estratégias de resistência.

Uma das mais conhecidas corresponde à revolta de Marcelino (Paraíso 1989), em que o líder Marcelino, com um grupo de índios, procuraram salvaguardar os seus interesses face à pressão fundiária. Segundo a imprensa da época, o fizeram não apenas por meio do enfrentamento da repressão policial, mas também pelo busca da proteção do Serviço de Proteção ao Índio, que, no entanto, não os atendeu. A eficácia da luta de Marcelino evitou maior usurpação fundiária até ao final da década de 1930, tendo recebido apoio dos índios que já habitavam por todo o território, abrigando-se e conseguindo refúgio, principalmente, nas regiões da Serra das Trempes e da Serra do Padeiro. A revolta de Marcelino é, hoje, referência fundamental para os índios, já que ele foi capaz de englobar simultaneamente características de herói, guerreiro e encantado, portanto plenamente capaz de ajudar o povo tupinambá. Porém, a resistência dos tupinambás se fazia sentir também de formas menos visíveis, fato que dificultou a colonização da área por não índios. Dois anos depois da prisão e do desaparecimento de Marcelino, os índios de Olivença "não acham quem os defenda", conforme afirmou Curt Nimuendajú em 1938. Todavia, para que os brancos conseguissem efetivamente apropriar-se dessas terras, tiveram que lutar com forças policiais e poder administrativo, aqui usando e abusando do momento do coronelismo e do projeto autoritário modernizante da ditadura de Getúlio Vargas que marcou, efetivamente, as décadas de 1930-1940. Na vila, a administração passou a ser controlada por migrantes chamados pelos coronéis da região, os quais implementaram leis para afastar os índios da vila.

A partir de 1945, a multiplicação de fazendas foi muito evidente, como pudemos comprovar recorrendo à indicação de locais de nascimento e morte de moradores na região, registradas no livro do cartório da vila. Nunca parando de crescer, a privatização quase plena do território efetivou-se nas décadas de 1960-1970. A partir de 1964, a situação ficou ainda mais clara já que o decreto nº 19 132 de 21 de fevereiro de 1964 obrigava que existisse uma proporção de pelo menos a metade entre a área cultivada e a inculta na venda de terras devolutas. Há testemunhos orais de agrimensores ou "delegados de terras" que certificam que serviram de mediadores para negociações entre proprietários e os índios que habitavam na região de matas, obtendo as terras por meios economicamente vantajosos para os compradores os quais normalmente nem chegavam a fazer um pagamento monetário. A "conquista da vila pelos brancos" foi complementada pela colonização fundiária da mata, envolvendo todo o território da costa até a região das serras.

Para os tupinambás, a privatização das propriedades começou a restringir e depois mesmo a impedir a sua reprodução no modo tradicional de ocupação do território, a qual implicava uma mudança cíclica de local de residência e a fundação de novas áreas de habitação pelo menos a cada duas gerações. Na década de 1980, as reivindicações feitas pelos tupinambás não ficaram muito conhecidas, porque eles procuraram meios próprios para ir diretamente a Brasília procurar apoio da parte da Fundação Nacional do Índio. Nos inícios da década de 1990, já há registros documentais na Fundação Nacional do Índio sobre a presença de uma comunidade indígena "arredia" em Olivença e a necessidade de ser atendida face à situação de desapropriação do seu território. O primeiro relatório resultante de uma visita da Fundação Nacional do Índio à região data de 1997 e, nele, o representante da Fundação Nacional do Índio afirma que, "após contacto e revelações do grupo meio arredio pelo pouco que são visitados, pude constatar que vivem em regime fechado e ainda conservam seus traços étnicos, legado dos primeiros povos a habitarem a região costeira da Bahia". No ano 2000, uma índia com maior instrução escolar conseguiu dinamizar um grupo de índios tupinambás para participar no encontro que juntou representantes da grande maioria dos povos indígenas do Brasil em Porto Seguro. É a partir da consciência de que faziam parte desse mundo mais vasto com quem contataram que os tupinambás acreditaram serem capazes de vencer a luta pela defesa do seu território tradicional.

Depois de solicitarem a delimitação do seu território tradicional à Fundação Nacional do Índio em 2002 e tendo conseguido que em 2003 se iniciassem os estudos preliminares de identificação da terra indígena, nos últimos seis anos viram a solução ser protelada com o aumento já insustentável de colisões sociais com interesses econômicos na região que, face ao conhecimento da existência de tais estudos, os ameaçavam. Em 2006, os tupinambás pressionaram os órgãos do Estado para a conclusão de tais estudos por meio de processos de "retomada" do território por si próprios. Tais atos foram acompanhados desde o início pelo envio de documentação à Fundação Nacional do Índio, na qual os tupinambás afirmaram que só estavam realizando tais atos como forma de chamar a atenção das autoridades quanto à urgência na demarcação de suas terras. Os critérios de ocupação por eles adotados lhes permitiram criar áreas de "aldeias" com a independência e a reciprocidade entre setores familiares que evidenciam seus modos tradicionais de ocupação do território.

A Marcha em Memória aos Mártires do Massacre do Rio Cururupe é considerada a única expressão pública de massa do povo tupinambá de Olivença. O evento tem o intuito de somar forças em prol da demarcação das terras e de dizer não à violência praticada contra o povo tupinambá de Olivença ao longo dos anos. Conhecidos como “caboclos” de Olivença, são 4 300 índios, aproximadamente, numa área das bacias hidrográficas costeiras entre Ilhéus e Canavieiras. Para manutenção da própria cultura, é ensinada a língua tupi. Todavia, essa demarcação está sendo contestada pelos não índios, uma vez que não há existência de indígenas há mais de cem anos na região, conforme estudos realizados pela historiadora professora Angelina Garcez e a antropóloga argentina Célia Jimenez.

O advogado Vinicius Briglia Pinto explica que, em final de abril de 2009, a Fundação Nacional do Índio surpreendeu os proprietários de terras na região cacaueira ao divulgar a aprovação do Relatório Circunstanciado de Delimitação da Terra Indígena Tupinambá e Olivença, pleiteando as terras que estariam encravadas nos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no estado da Bahia, cujos territórios identificados e já delimitados seriam ocupações tradicionais do grupo indígena tupinambá de Olivença, cuja predominância de traços da vida social remontaria à grande família tupi, filiação que seria um resquício histórico remoto e uma marca efetiva na organização social e modo de vidas atuais.

Apoiado em um trabalho acadêmico de uma antropóloga, que também veio coordenar os trabalhos de levantamento da área na qualidade de antropóloga coordenadora, a Fundação Nacional do Índio pretende demarcar o território indígena a que chamam de Tupinambá de Olivença e que estaria situado no sul do estado da Bahia, estando majoritariamente inserido no município de Ilhéus, mas também nos municípios de Buerarema e Una. A vila de Olivença seria o marco referencial da área, por ter sido um dia, o local onde teria sido edificado o aldeamento jesuíta Aldeia de Nossa Senhora da Escada, no fim do século XVII.

Segundo se estima através do relatório apresentado, viveriam, na área, aproximadamente 3 000 indígenas, que habitariam em "pequenas unidades familiares" distribuídas em uma área que corresponderia à superfície de 43 376 hectares e que abrangeria: ao norte, a costa marítima e uma área da mata atlântica; ao sul, a vila de Olivença; e para o interior, até uma cadeia de montanha composta pelas serras das Trempes, do Serrote e do Padeiro. A primeira reivindicação relacionada aos índios de Olivença foi em 1995 através da carta de uma assistente social em Ilhéus dirigida ao presidente da Fundação Nacional do Índio em que pedia o reconhecimento étnico do grupo pelo referido órgão, sem, contudo, mencionar a que etnia pertenciam os referidos grupos, ou mesmo, tratasse da questão das terras.

Em 14 de novembro de 2001, a Fundação Nacional do Índio determinou que fosse procedido o levantamento prévio sobre a demanda fundiária da população denominada Tupinambá de Olivença. O relatório chegou a afirmar que a dificuldade maior "não era a reivindicação do reconhecimento mas o fato de afirmarem ser eles Tupinambá" e, ainda, que "a questão de todas mais complexas é a da própria Vila de Olivença. Tendo sido comprovadamente a sede da antiga aldeia, é considerada o lugar de origem da comunidade" e reflete que "a par de toda essa discussão, o pouco tempo disponível, especialmente na vila e a própria complexidade da questão, não nos permitam reunir dados suficientes para afirmar se uma possível demanda neste sentido estaria contemplada nos termos da legislação pertinente".
Para o reconhecimento étnico oficial do grupo tupinambá, foi utilizado o critério de auto identificação como descendentes de povos indígenas, reconhecendo a identidade indígena da comunidade Tupinambá de Olivença, de acordo com a legislação pátria e internacional. Em 2004, se deu a operação de retomada de 290 hectares da Fazenda Futurama, de posse de Gildro Lisboa, situada na região de Serra do Padeiro, que impulsionou inúmeras outras retomadas de terras invadidas por não índios nos anos que se seguiram, cuja motivação era pressionar a Fundação Nacional do Índio a concluir o processo de demarcação. A imprensa a serviço dos invasores e dos demais interessados nas terras indígenas chegou a acusar que a própria Fundação Nacional do Índio teria organizado, promovido e executado, manu militari, as invasões de terras, que se intensificaram.

Os diversos meios de comunicação, controlados pelos invasores das terras tupinambás, noticiaram de forma distorcida as situações de conflito nas terras tradicionais desse povo. A Fundação Nacional de Saúde, que atua junto às comunidades indígenas, realizou o cadastramento de índios de forma a identificar os usuários indígenas da saúde pública.

Reação dos fazendeiros locais
Com a apresentação do relatório final em 2009, deflagrou-se uma manifestação pública da sociedade contra a demarcação indígena, insuflada pelos invasores da terra tupinambá. Os pequenos agricultores foram instrumentalizados e armados numa cruzada contra a demarcação indígena, marcada por protestos que provocaram o fechamento da rodovia BR-101 por mais de duas horas.

Tal manifestação forçou o descadastramento de mais de 250 pessoas, aterrorizadas pela animosidade promovida por políticos locais contrários aos indígenas e detentores da mídia, que os discrimina a diário, veiculando mentiras a respeito dos tupinambás. As lideranças tupinambás vêm sofrendo perseguições e um violento processo de criminalização, intensificado desde a publicação do relatório de identificação e delimitação dos limites da terra tupinambá, baseado em sólidos estudos técnicos e contestado administrativamente na forma do decreto 1775/96. Essas contestações estão sob análise, de acordo com o mesmo diploma legal.

Prisão do lider tupinambá em 2010
Lider babau












Em 2010, o principal líder dos tupinambás de Olivença, Rosivaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como Babau, foi preso pelo Departamento de Polícia Federal em uma ação violenta na aldeia Serra do Padeiro. Babau segue preso, aguardando o julgamento por supostos crimes cometidos em 2008 (invasões de fazendas, vandalismo, incêndio, tentativa de homicídio, conflito com policiais). Poucos meses após a prisão de Babau, sua irmã, Glicéria de Jesus da Silva, também foi presa, juntamente com seu filho de dois meses de idade, enquanto desembarcava no aeroporto de Ilhéus vinda de Brasília, onde havia entregue um documento com reivindicações de seu povo para o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva. Glicéria foi presa por agentes do Departamento de Polícia Federal sob a acusação de extorsão e formação de quadrilha. Segue presa, aguardando julgamento. Sua prisão foi criticada pelo representante do Conselho Indigenista Missionário de Itabuna, Haroldo Heleno, que enxerga na prisão um ato de intimidação contra as lideranças indígenas tupinambás. Outro irmão de Glicéria, Gil, também segue preso.


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